INQUIETUDE define o sentimento dos brasileiros diante do cenário de incertezas e tensões instalado na sociedade desde 2014, período marcado por intensas transições políticas e crises sociais e econômicas. Neste contexto, o cinema produzido no Brasil tem se reconfigurado nas dimensões das obras, dos formatos e dos modos de produção, onde se destaca uma vertente que rejeita o tradicional modelo industrial e as salas de cinema comerciais como principal janela, enquanto abraça hibridismos entre gêneros e formatos do cinema, e entre o cinema e outros meios artísticos. As obras resultantes apresentam aspectos fortemente provocativos e de enfrentamento, revelando feridas e traumas brasileiros, as complexidades e segmentações de uma nação profundamente multicultural e desigual.

O ciclo de cinema Inquietude – o social e o político no cinema brasileiro contemporâneo se debruça sobre os filmes lançados entre 2017 e 2020, período que entremeia a retirada de Dilma Rousseff da Presidência da República, evento que até hoje divide a população sobre sua legalidade (impeachment ou golpe?) e a pandemia do Covid-19, que intensificou as transformações e dificuldades da produção audiovisual a níveis profundos.

No período abordado, a sociedade brasileira se viu numa montanha russa de eventos imprevisíveis e num cenário de extrema polarização, onde dramas pessoais e coletivos se misturam em todos os tipos de relações. A curadoria se propôs a selecionar filmes que abordam direta ou indiretamente os eventos do período e os sentimentos consequentes, o zeitgeist deste limbo.

Serão 4 exibições seguidas de debates com convidados nas noites de quinta-feira do mês de março de 2022, apresentando na Covilhã filmes premiados no Brasil e no mundo e pouco exibidos em Portugal, além de importantes conversas sobre éticas, estéticas e poéticas do cinema contemporâneo e sua relação com a sociedade brasileira. O evento é parte integrante do projeto de investigação do pesquisador Nathan Costa, responsável pela curadoria e mediação dos debates, no âmbito do doutoramento em Media Artes da Universidade da Beira Interior, dedicado às intersecções entre cinema, política e história na cinematografia brasileira contemporânea. O projeto tem orientação do Prof. Dr. Paulo Cunha (UBI) e coorientação da Prof. Dra. Michelle Sales (UFRJ, Brasil).

PROGRAMA

SESSÃO 1 – SETE ANOS EM MAIO (Affonso Uchôa, 2020, 42′)

10 de março de 2022 às 21h – Anfiteatro da Parada/UBI

Convidados: Affonso Uchôa (realizador), Daniel Oliveira (UBI)

Na sessão de abertura será exibido o média-metragem Sete Anos em Maio, realizado e co-escrito por Affonso Uchôa. Os dois personagens do filme, que interpretam a si mesmos, reencenam conhecidas práticas de abordagem policial racistas e truculentas a que foram sujeitos, narram e refletem sobre os eventos e as consequências na vida de cada um. No cinema de Uchôa, marcado pela coautoria, pela rejeição a formatos prontos e abertura para afetos e possibilidades, os modos de escrita e produção se reinventam a cada obra. A filmografia do realizador, argumentista e montador mineiro ainda inclui os premiados filmes A Vizinhança do Tigre (2014) e Arábia (2017), co-realizado por João Dumans.

SESSÃO 2 – IDENTIDADES EM FOCO (curtas-metragens)

17 de março de 2022 às 21h – Anfiteatro da Parada/UBI

Convidados: Paulo Cunha (UBI), Marcelo Ikeda (UFC, Brasil)

A segunda sessão reúne uma seleção de curtas-metragens que refletem sobre questões identitárias no contexto multicultural brasileiro, apresentando perspectivas de grupos específicos e segmentados, e as dificuldades e particularidades das vivências individuais em sociedade, com destaque para o emprego de narrativas autobiográficas, híbridas e dos utilização dos corpos dos atores/personagens como elementos narrativos. Os curtas-metragens Cinema Contemporâneo (Felipe André Silva, 2019, 5′), Inabitáveis (Anderson Bardot, 2020, 25′), Para Todas as Moças (Castiel Vitorino Brasileiro, 2019, 2′), Swinguerra (Bárbara Wagner e Benjamin de Burca, 2019, 23′) e Afeto (Gabriela Gaia Meirelles, Tainá Medina, 2019, 15′) levantam questões étnicas e raciais, de gênero, orientação sexual e ancestralidade – temáticas onipresentes em debates acerca do Brasil atual.

SESSÃO 3 – CINEMA E MUDANÇA SOCIAL (curtas-metragens)

24 de março de 2022 às 21h – Anfiteatro da Parada/UBI

Convidados: André Barata (UBI), Michelle Sales (UFRJ, Brasil)

A terceira sessão apresenta curtas-metragens que buscam instigar e promover ações transformadoras nos contextos social e político brasileiros, seja aliando-se a ativistas e movimentos sociais, com performances e ações que interferem na realidade, ou refletindo sobre a participação individual em mudanças sociais: Estamos todos aqui (Chica Santos e Rafael Mellim, 2017, 20′), Real Conquista (Fabiana Assis, 2017, 14′), Até o fim do mundo (Margarita Rodriguez Weweli-Lukana e Juma Gitirana Tapuya Marruá, 2019, 15′), Bicha-bomba (Renan de Cillo, 2019, 8′) e Peito Vazio (Leon Sampaio, 2017, 17′).

SESSÃO 4 – PELA JANELA (Caroline Leone, 2017, 87′)

31 de março de 2022 às 21h – Anfiteatro da Parada/UBI

Convidados: Caroline Leone (realizadora), Melanie Pereira (realizadora), Nina Tedesco (UFF, Brasil)

A quarta sessão exibirá o premiado longa-metragem Pela Janela, com argumento e realização de Caroline Leone. Delicado e minimalista, o filme se dedica a acompanhar a personagem Rosália em um momento de crise e transformação, após ser demitida da fábrica onde trabalhou por décadas. A jornada da personagem propõe reflexões sobre relações de trabalho e a posição da mulher na sociedade, revelando a sensibilidade de personagens sub-representados no cinema brasileiro.

CONVIDADOS

André Barata é professor associado na Universidade da Beira Interior, onde dirige, presentemente, a Faculdade de Artes e Letras. Preside também a Sociedade Portuguesa de Filosofia. Os seus interesses académicos circulam pela filosofia social e política, o pensamento existencial e fenomenológico, designadamente os temas das políticas do tempo, da ecologia política, das fenomenologias da relação, do tempo e dos lugares.

 

Affonso Uchôa é realizador dos filmes Mulher à tarde (2010), A vizinhança do tigre (2014) e Sete anos em maio (2019), e co-realizador do filme Arábia (2017). Seus filmes foram exibidos em diversos festivais pelo mundo, dentre eles os Festivais de Roterdã (Holanda), Viennale (Áustria), Festival de Toronto (Canadá), Visions du réel (Suíça), Mostra de Tiradentes (Brasil) e Festival de Mar del Plata (Argentina).

 

Caroline Leoni é realizadora, argumentista e montadora dos curtas-metragens Dalva (2004) e Joyce (2006), e do longa-metragem Pela Janela (2018). Seus filmes foram exibidos e premiados em dezenas de festivais no Brasil e no mundo, e Pela Janela teve lançamento comercial no Brasil e na Argentina. Paralelamente, trabalha como montadora de longas e curtas-metragens, documentários e publicidade. Atualmente, trabalha no projeto, captação e desenvolvimento de seu segundo longa-metragem, De Guiné.

 

Daniel Oliveira é doutorando em Media Artes e mestre em cinema pela Universidade da Beira Interior. Atua como crítico desde 2004, filiado à Associação Brasileira (Abraccine) e à Federação Internacional de Críticos de Cinema (Fipresci). É formado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais, com especialização em História da Cultura e da Arte pela mesma instituição, e pós em Roteiro para Cinema e TV, pelo Humber Institute (Toronto, Canadá).

 

Marcelo Ikeda é professor do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Ceará. Doutor em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco. Autor dos livros Cinema de garagem (com Dellani Lima, 2011), Cinema brasileiro a partir da retomada: aspectos econômicos e políticos (2015), Fissuras e fronteiras (2019), O cinema independente brasileiro contemporâneo em 50 filmes (2020), Utopia da autossustentabilidade: impasses, desafios e conquistas da Ancine (2021), entre outros.

 

Nina Tedesco é professora do Departamento de Cinema e Vídeo e professora colaboradora do Programa de Pós-graduação em Estudos Contemporâneos das Artes da Universidade Federal Fluminense. Seus principais temas de interesse são: audiovisual, América Latina, fotografia, cinematografia, cidade, política e gênero.

 

Melanie Pereira é realizadora de cinema, o seu trabalho gravita em torno de duas temáticas centrais, a emigração portuguesa e a luta pelos direitos das mulheres. As primeiras obras, que se inserem ao que chama de Ciclo da Emigração, abordam fragmentos migratórios através de observações, memórias, tempos e arquivos. Ativista feminista, desenvolve várias investigações e trabalhos em volta de cinema e mulheres, em especial no contexto português. Atualmente, faz parte da equipa do Porto/Post/Doc: Film & Media Festival.

 

Michelle Sales é professora Associada da Escola de Belas Artes da UFRJ e do programa de Pós Graduação em Multimeios da Unicamp. 

 

Nathan Costa é doutorando em Media Artes pela Universidade da Beira Interior, onde conduz uma investigação sobre as intersecções entre cinema, política e história do tempo presente, na cinematografia brasileira contemporânea. O projeto atual dá continuidade aos trabalhos realizados nos âmbitos da graduação em Comunicação Social (Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil) e do mestrado em Indústrias Criativas (Radboud University, Países Baixos), focados em diferentes aspectos do cinema documental e político.

 

Paulo Cunha é docente de Cinema do Departamento de Artes da Universidade da Beira Interior e programador de cinema no Cineclube de Guimarães e no festival internacional de cinema Curtas Vila do Conde.

ORGANIZAÇÃO

Curadoria e produção: Nathan Costa

Orientação: Paulo Cunha

Divulgação: Labcom UBI

Design: Sara Constante (Labcom UBI)

Apoio: Doutoramento em Media Artes/UBI

COMISSÃO CIENTÍFICA

Nathan Costa

Paulo Cunha

Tiago Fernandes

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Nathan Costa

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nathanf.costa@gmail.com